Que
contar histórias é um modo fascinante de engajar as crianças e a manter seu
entusiasmo e concentração na sala de aula todos nós sabemos. Mas como conseguir
isso ao se deparar com uma geração de pequenos usuários de multimídias, vidrados
em Ipad e Ipods e que já nasceram com telas em movimento diante dos olhos?
A
concorrência estava acirrada, e me vi perdendo para as telinhas, perdendo para
a falta de interesse. Algo deveria mudar.
Meu
contexto de pesquisa é o de escola particular bilíngue. Temos 5 horas de
imersão em língua Inglesa e cinco dias na semana. Nossa turma consiste de 15
alunos com média de 3 anos e meio a 4 anos completos e, obviamente, todos são
de famílias abastadas.
Poucos
meses atrás eu havia me deparado com um problema que persistia em nossas aulas;
As crianças sempre gostavam do nosso momento “book time”, mas não se mostravam ansiosas ou entusiasmadas com
isso. Algumas delas sempre buscavam outras fontes de entretenimento, isto
quando, não se mostravam completamente desinteressadas pelo livro e acabavam perturbando
a aula e seus colegas.
Havia
ainda a dúvida quanto à eficiência do contar histórias e o ensino do idioma, o
quanto da língua era de fato absorvida pelas crianças.
Fiz
uma pesquisa sobre diferentes técnicas de 'contação'
de histórias e fiz alguns testes com a turma. Tentei ver o que eles realmente
gostavam e de que forma eu conseguia conquistar melhor sua atenção. Contei a
mesma história de modos diferentes e ao final de cada conto, eu lhes perguntava
de qual história eles haviam gostado mais.
História
com o livro: Escolhi um clássico dos 3 porquinhos. Primeiramente de acordo com
a pesquisa feita, incorporei algumas técnicas apresentadas no Storytelling With Children – de AndrewWright: ele diz para usarmos muito as mãos com mímicas, enfatizar palavras
chaves e sons importantes. Usei ainda algumas ideias mencionadas por Lenna Glade especialista Canadense em Educação Infantil, algumas dessas ideias eu já
havia me deparado em outros workshops, como por exemplo com Jeremy Harmer,
também especialista na área de ELT. Tom
de voz, entusiasmo e conhecimento sobre o que está sendo contado são
fundamentais para o sucesso da experiência. É preciso saber muito bem o conteúdo para que
a história seja bem contada. Fiz ainda perguntas durante a leitura (ex: Vocês
sabem o que aconteceu depois? Ou Advinha o que aconteceu?), para provocar a
participação dos pequenos e sempre checando o entendimento linguístico. Todas
as palavras mencionadas no texto foram lidas, e não fiz a linguagem mais fácil
para que eles pudessem entender melhor. Para que isso fosse possível o livro
foi escolhido de acordo com idade dos alunos.
O
sucesso foi garantido. Esse livro ainda foi lido outras 3 vezes, e em todas as
situações a expressão e entusiasmo foi completamente diferente do eu havia
obtido das primeiras vezes.
Histórias
contadas através de objetos: Segundo Regina Machado, contadora de histórias, no
site da Veja contar histórias é extremamente importante nos dias de hoje porque
“vivemos num mundo de muitas coisas, de muita quantidade e pouca qualidade e a
história trás uma experiência nova, uma experiência de qualidade (...) somos
carentes de experiências humanas”.
Ao pesquisar
o tema e lançar minhas dúvidas na internet, me deparei com muitos vídeos, e,
dentre eles, o da saudosa Helen Helene do programa infantil Rá-tim-bum.
Assistido seus vídeos, onde diversas histórias eram contadas por meio de
objetos me veio o desejo de tentar reproduzir algo semelhante em sala de aula.
Para ter referencia, usei a mesma história dos 3 porquinhos. Desta vez, usei
potes de Yakult para os porcos, um leque para o lobo, canudos, palitos de
sorvete e blocos de montar para construir as casinhas. Conforme o desenrolar da
história eu ia revelando os materiais. O brilho no olhar, a curiosidade e
assimilação foram ainda mais interessantes. A compreensão foi testada, a
concentração e o foco foram mantidos por mais tempo e o interesse da turma foi
surpreendente. Fiz ainda o teste com contos que eles não conheciam, e com
clássicos dos contos de fadas.
Ao
final de 3 apresentações dos 3 porquinhos, eu os questionei para saber de que
forma eles haviam se interessado mais;
Dos
15 alunos presentes e que passaram pelas duas experiências, 12 preferiram ouvir
a história contada com a ajuda dos objetos. Outros 3 ficaram em dúvida, mas
afirmaram suas preferências pelo livro;
Ao final
dessa experiência pude concluir que uma boa história não apenas enriquece
culturalmente, mas linguisticamente. Meu grupo, após ser exposto à contação elaborada e com propósito, teve
um enriquecimento de vocabulário, são capazes de reproduzir a história e se lembrarem
perfeitamente das sequencia lógica de começo, meio e fim. Tendo em vista o
conteúdo linguístico, não há como negar que houve sim um grande
desenvolvimento, os trechos mais enfáticos do livro são reproduzidos livremente
e com fluência. Nenhuma palavra em português foi usada para elucidar ou
traduzir algum vocábulo e ainda assim, todo o contexto foi absorvido.
Concluo
então que o momento do Storytelling
pode e deve ser mais explorado dentro do curso, seja este, curso regular ou de
idiomas. Muito conteúdo pode ser passado e muito além da realidade se pode ir.
Devemos
aproveitar que apesar de toda modernidade que nos cerca a infância ainda hoje é
cheia de fantasia e mágica. O
desconhecido, o novo e as descobertas são como feitiços e pura magia vistos
pelos olhos de uma criança, é nosso dever como educadores usar nossos poderes
para transformar momentos tão simples em pura alquimia.
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